sábado, 13 de novembro de 2010

CAMELOS, AVESTRUZES E BURACOS

Redenções caladas escancaram no peito sorrisos tão grandes que já não lhe cabem. Ausente alguém a dar a outra face, partilha o dia de assombrosas minúcias: primavera dos justos, inverno dos fracos. Risonha a lua. Azulzinho o céu.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ÁGUA E SAL

Da tarde indolente que delatou a liberdade. Dos dias embaralhados pela expectativa de raras coisas bastantes, para além do resto que nos consome. Dos lábios apáticos ao consenso parvo, das saudades sinceras que só ganham não, da dor lancinante que aprendeu a ser muda. Do sono compartilhado, dos sonhos segregados, da absoluta inércia às negativas da vida. Da coragem reserva para problemas incertos, da multidão de cegos sempre queixosos, dos pálidos possessivos querendo a infância esvaída. Pessoas inteiras não buscam metades; seja bem-vindo ao mundo. Chore baixinho, que os sonos são leves, e sorria no escuro, que os egos são frágeis.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

BIS IN IDEM

E o nome do novo livro de Paulo Coelho é O Aleph. Um "imortal" ousando novamente cutucar Jorge Luis Borges no sossego de sua tumba. Aceita um chá?

domingo, 25 de julho de 2010

PEQUENO

Solidão emoldurada, fita a anunciação da noite a engolir a jornada. É a fuga de quase raro dia que não lhe pertenceu, daqueles em que a soberba do tempo transcorre serena e impassível a qualquer pretensão humana. O melhor segredo se consome em vestígios do que se possa pegar nas mãos. Cala. A lua quer rasgar o céu: rende-se o dia, afinal.

p.s.: feliz aniversário.

domingo, 18 de julho de 2010

QUANDO A BOCA DA NOITE ENGOLE O DIA E OUTRAS MENTIRAS IMPUBLICÁVEIS, VOL. I

A imperiosa arte de enausear gavetas com obviedades sentimentais.
Fim.

sábado, 3 de julho de 2010

AS BRAHMINHAS DA ANTARCTICA

- Mi Argentina querida perdendo para os alemães.
- Nossa, você está torcendo para a Argentina?
- Sim, eu sou latina...
- Ah, é?





(Brasil é Brasil e vice-versa.)

domingo, 27 de junho de 2010

INDÉBITA

No anonimato das passadas geladas, escorre o sol que ninguém viu. Cada pessoa é um nada com quem por fim não trava dívidas. Cada pessoa é um tudo, espelho multiplicador de medos e quase imperscrutáveis motivos, não fossem eles ingloriosamente paralelos aos seus. Pescoço em disputa sem recompensa, dois e poucos sonhos por realizar, frágeis amores para não sonhar. Tudo que mais temia aconteceu. Foi ser livre.

TANTRA PALAVRA

- Fale-me mais sobre você.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

STUPEFACTU (OU FEITO DE ESTÚPIDO)

Sou o alvo e também o escudo, me engastam mentiras enquanto durmo. Febril, afasto desatinos; ver refugos de fé me confunde os sentidos. Suponho-me livre: cárcere de quimeras, este peito aberto.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

FELICIDADE, AINDA QUE TARDIA

Para aquele dia, a melancolia bonita de duas flores a morrer longe de casa, duas cartas de amor sublime e uma ligação internacional. Sete pro azar, vinte pro espelho: onde foi que perdeu a conta e se deixou crescer? Um sorriso nos lábios, rendição de joelhos.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

DESILUSIONISMO

Patética poeirinha de estrela sempre em busca de novas receitas para conservar o bom humor, tardou a descobrir que sumir é bem mais produtivo que serrar-se ao meio para divertir o populacho. Destino desmarcado constantemente confrontado pela personalidade deveras adequada à influência do astro que estava no quadrante no momento em que nasceu e por uma perene insistência em dar tudo invariavelmente errado. Saudades de quem não conhece, nostalgia do que jamais existiu: a delicadeza nunca esteve tão deslocada em uma paisagem. Não que ouse supor ser plenamente capaz de se aguentar só; é apenas uma hipótese fortemente exercitada quando não lhe restam saídas. Alguns chamam de arrogância. O ceticismo tende à arrogância, a arrogância à presunção, a presunção às premonições falidas, e estas, aos agouros sobrenaturais. Não antecipemos problemas: se a fortuna da roda está ora em cima, ora embaixo, um dia a desgraçada sobe. Maktub, está escrito - mas sempre é tempo para apagar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

BREGA A 70%

Tomar cuba, esquecer-se ilha
A felicidade é um mar de vodka
De baunilha

sábado, 8 de maio de 2010

CONTATO

Números primos ao espaço e meu vizinho não quer dizer bom dia.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

ROMANCE DA VIDA BURGUESA

Nem bem acordo, me sacode: sobram estupidez em seu sorriso falido e covardia em sua boa moral a cada pulso de vida. Abraça erros alheios e metralha supremas verdades na minha cara amassada. Horror a tudo que não é perfeito, mas pra tudo ele tem remédio. Abro a porta do armário; finalmente se cala. Cacete! Tem um burguês no meu espelho.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

MENOS

Aos budas, para elevar a alma, amor. Ao resto, para ofuscar erros, solidão. (O amor quer demais, e nós não temos pra dar.)

terça-feira, 27 de abril de 2010

SOMENTE UM MINUTO

"Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer."
Nietzsche (Este blog estava merecendo um escritor que preste.)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Nestes dias de outono, fique atento: guarda-chuvas são seres promíscuos e vão com qualquer um.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

EMETICAMENTE

Por mal, gargalhe baixinho: a infelicidade é o álibi dos covardes.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

CITANDO ANÔNIMOS

A filosofia capitalista:
gastar o que você não tem
comprando o que você não precisa
pra impressionar quem você não conhece.