segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
MOTIVOS PARA ODIAR FLORES
Se para isto há medida, eram excessivamente soberbas, ansiosas por exalar um perfume que jamais possuiriam. Carregavam consigo insinuações mais sublimes, imperceptíveis aos narizes e corações vulgares, tal qual acontecidos de natureza diversa misteriosamente reservados por entidades supremas (o acaso, por exemplo) às almas delicadas e contemplativas que claudicam pelo mundo. Não que uma explicação forjada satisfizesse os anseios de adoração e glória dessas aglomerações de florzinhas tão pretensiosas quanto poderia ser qualquer estúpida florzinha brotada em um vão de calçada de algum beco desamparado, mas era esse o caso. E aqueles olhos mareados eram dos poucos capazes de capturar sutilezas em dias ensolarados ou em almas anuviadas pelos reveses da vida, muito embora tal fato não fosse dotado da menor relevância. Nuances não tornavam a vida mais triste ou mais feliz. Solitária, talvez. Nunca almejou abandoná-las. Ficaram as flores em seus tapetes monótonos, não sem antes terem sido, na inércia da sua altivez, entremeadas por amarguras e desenganos e por umas pretensões pueris que, claro ficava, jamais se iriam concretizar. Regressava leve, de tristeza contida, com indigestas absolvições necessárias e a mesma velha porção de amores recolhidos. Não era jasmim, aquela flor do campo.
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Você é jasmim, minha cara.
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